Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Abril 20, 2001
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O presente que era o futuro...a cidade que sonhei.

Já tive oportunidade de elogiar nossa velha São Paulo. Contei sobre a tranqüilidade de nossas ruas, das praças arborizadas, sobre o carnaval da Avenida Paulista, das tardes ensolaradas nos campos floridos da chácara Itahim.

Sinto que o tempo passou...E, graças a Deus, temos capacidade de se adaptar a novas situações e novos ambientes.  

Tal seria se não fosse assim! Não conseguiríamos sobreviver a tanta saudade e tantas lembranças.  

Hoje vejo São Paulo pujante...  

Prédios, carros, shoppings e hipermercados...todo o conforto nos cerca...toda a violência nos cerca...afinal, nesse mundo  tudo tem um preço...tudo...A juventude sem a experiência... a velhice com a saudade...  

Gosto do progresso. Reconheço ser inevitável.  

Felizmente sinto que vivo o presente, que para mim era o futuro...  

Minha mãe, na década de 20, falava que haveria uma linha de trem perto do Rio Pinheiros...e hoje, depois de oitenta anos, vejo as novas estações do metrô começarem a funcionar...  

Quando bem pequena ouvia meu pai dizer, lá pelos idos de 1923, em frente a seu terreno na Rua João Cachoeira: “Vou construir minha casa com recuo, pois aqui eu ainda abrirei meu negócio: esta rua será o centro comercial da região ...”

Resolvi permanecer por aqui para conferir...  

E estou feliz em poder usufruir do progresso. Mas, todos queremos mais...  

Problemas e dificuldades sempre existiram e sempre existirão... precisamos contorná-los com fé e perseverança...assim, quem sabe,  descobrimos que podemos ser felizes, mesmo em uma cidade que às vezes é tão desumana...  

Vejo que ainda existem pessoas que me cumprimentam com sorriso no rosto e são gentis ao oferecer espaços nos bancos dos ônibus. Um simples bom dia ou boa tarde pode transformar uma pessoa, deixando-a mais leve, mas esperançosa em um mundo melhor...  

Sim, São Paulo é uma grande  cidade...mas que bom seria se fosse uma grande comunidade.  

Se pudéssemos caminhar sem encontrar indigentes e que essas pessoas também fossem felizes, atendidas nas suas mínimas necessidades.  

Se pudéssemos caminhar sem cair em buracos na calçada ou tropeçar em entulhos pelas ruas  

Ah ...se as pessoas jogassem menos papéis no chão...  

Ah ...se as pessoas olhassem por onde andam e cuidassem de onde convivem...  

São Paulo tem solução...basta um pouco mais de humanidade.  

Já tive oportunidade de visitar outros países como os Estados Unidos, Argentina, Uruguai e creio que o conhecimento ajuda a entender melhor o que é ter cidadania, ser uma cidadã consciente.

Conhecendo novos lugares, podemos melhorar o nosso próprio lugar, aprendendo, e transmitindo a nossas crianças como se transformar em cidadãos conscientes e críticos, participativos e interativos.  

Essa é São Paulo que sonhei quando criança...e que ainda quero ver acontecer...  

Já somos a terceira cidade do mundo... em problemas, inclusive. Mas, aos oitenta e três anos de idade,  tenho esperança que  conquistaremos uma qualidade de vida cada vez melhor...  

Participando de espaços comunitários como este, exemplo de um caminho. Conversando sobre a cidade, lendo sobre sua história, se conscientizando de seus problemas, vamos formando uma consciência mais crítica e acabamos nos unindo em torno de um objetivo: amar São Paulo com maturidade enfrentando seus problemas, descobrindo soluções, exigindo governabilidade.

Podemos iniciar em nossa própria família, que é o embrião da sociedade. Não é muito difícil...basta levarmos o exemplo familiar para uma abrangência maior: a nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho, nossos amigos e conhecidos... e uma grande corrente se fará.

Hoje tenho duas filhas, duas netas e dois netos, uma linda família:    

Procuramos viver e conviver com respeito e amor, união e paz...cada um realizando suas metas e objetivos, e compartilhando momentos felizes e tristes juntos... talvez seja essa uma simples receita, mas que possa contribuir para uma comunidade mais feliz!       

Valerá a pena tentar!  

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