Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Julho 06, 2001
Índice das Histórias já publicadas

O papel da mulher na Revolução Constitucionalista 

O Nove de julho representa para São Paulo uma das mais gloriosas páginas da História do Brasil.

Eu tive a oportunidade de viver esse tempo de luta e de patriotismo. Aos quatorze anos de idade,  estudando no Colégio São José,  no centro de São Paulo, participava ativamente dos acontecimentos que ocorriam na cidade. Assisti  comícios, passeatas, desfiles, discursos. O ufanismo paulista era cantado nos quatro cantos da cidade. Todos os paulistas estavam unidos e imbuídos de um espírito de luta e solidariedade muito grande. A propaganda era forte e intensa . Todos contribuíam de alguma maneira. Tanto em meu bairro, Itaim-bibi, como no centro , encontrávamos  mulheres, moças, garotas de todas as idades usando o bibi, aquele chapeuzinho que carregava as bandeiras nacional e paulista. Nesta foto podemos ver as mulheres com o referido chapéu, unidas e solidárias à revolução constitucionalista.    

Enquanto os homens se embrenhavam pelo interior do estado , nas trincheiras e campos de luta, as mulheres que aqui ficavam se dedicavam de todas as maneiras possíveis:  se organizavam, trabalhando  no atendimento aos feridos, na   confecção de fardas para os revolucionários. Esta foto mostra um grupo de mulheres costurando em uma escola pública transformada em espaço industrial  provisório:    

Nas  fábricas de capacetes de aço, os serviços eram executados por senhoras e crianças em prol da causa constitucionalista. Todos, sem exceção, tinham um só pensamento: lutar por São Paulo . Vejam esta foto de uma fábrica de capacetes:  

Transcrevo aqui as palavras de uma das mulheres que melhor representaram a participação feminina nos atos revolucionários paulistas: Dona Carlota Pereira de Queiroz. Esta senhora, que chegou a ser eleita deputada federal por São Paulo, foi a responsável pela implantação da Assistência Social, em São Paulo e em todo o Brasil. Seu envolvimento e participação durante a Revolução Constitucionalista a transformou em um exemplo glorioso da mulher bandeirante, uma verdadeira heroína, digna representante das mulheres paulistanas. O texto a seguir foi publicado em 07 de julho de 1954, há exatamente 47 anos.

A mulher paulistana  integrou-se imediatamente no movimento revolucionário. Compreendeu o alcance e percebeu a finalidade da revolução. Colocou-se na retaguarda. Não houve atividade que não tivesse participado. Damas da sociedade, até ao preparo do material bélico emprestaram colaboração eficaz. Os serviços, desde os mais grosseiros foram executados sem vacilações Isto mostra que a mulher inspirou confiança aos mentores da revolução. Dentro de suas possibilidades lutou sem esmorecimentos. Até nas trincheiras ela esteve. S. Stela Sguassiaba alistou-se como voluntária. Pegou no fuzil e combateu. É uma magnífica senhora de São João da Boa Vista. Coube-me a honra de dirigir o Departamento de Assistência aos Feridos. Iniciei, nessa oportunidade, o Serviço Social. As senhoras atuavam nos hospitais de sangue. O Departamento por mim dirigido fornecia o necessário aos soldados constitucionalistas. Também os mutilados eram devidamente amparados e recebiam conforto moral. Grandes dias vivemos! Quanta dedicação! O Brasil todo deve se orgulhar da Revolução Paulista. As demonstrações de amor à nossa causa eram constantes e comoventes. Certa feita, uma senhora pobremente trajada compareceu ao Departamento e ofereceu-se para cooperar. Não tinha dinheiro para ajudar São Paulo, mas comparara um pacote de cigarros para os soldados. Era pobre, mas com sacrifício continuaria ajudando. Outra, também de origem modesta, pediu-me que a deixasse ajudar. Não sabia costurar, mas limparia o chão de bom grado. Meu jovem amigo, o Brasil precisa e deve conhecer bem a história da Revolução Paulista.” ( Carlota  Pereira de Queiroz)  

Assim  era o espírito da mulher paulista. De qualquer forma, a revolução foi uma realidade...mesmo com tanta tristeza, mortes, e famílias desfeitas, a liberdade, a democracia, e o exemplo paulista, acabaram fazendo parte da história deste país.

Convide um amigo para ler esta matéria 

Envie seu comentário à autora deste artigo

Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito da autora.