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Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Agosto10, 2001
Índice das Histórias já publicadas

“Redescobrindo” São Paulo

Nesta semana tive a oportunidade de ler uma notícia extremamente interessante (clique e leia você também) sobre a nossa cidade. Lendo-a, tive a grata lembrança de recordar momentos felizes da minha juventude. Parecia mesmo que velhos momentos e velhas imagens eram resgatados a cada linha da notícia. Eu estou falando sobre os roteiros turísticos que estão acontecendo pelo velho centro da cidade de São Paulo, o chamado centro histórico. Assim lembrei-me dos anos 30 e 40 quando freqüentemente eu, meu marido e a nossa pequena filha íamos passear pelo centro da cidade, observando com curiosidade o movimento ainda calmo dos automóveis que passavam pela Praça do Patriarca, pela Libero Badaró, sentir a sombra gostosa das arvores já frondosas da Praça da República, cercadas de pequenos lagos com aves aquáticas. Um espaço que era calmo, limpo e sem perigos... Ainda com os fotógrafos lamba-lambes que freqüentemente registravam os transeuntes elegantes, orgulhosos de sua cidade.

Esta foto mostra a rua Rangel Pestana a partir da Praça Clóvis Bevilacqua no ano de 1953 tendo ao horizonte o Pico do Jaraguá em meio a uma paisagem ainda intocada. Repare nas pessoas caminhando pela praça, o movimento ainda pequeno dos carros, bonde e ônibus, e a construção à direita do Palácio da Fazenda onde havia o Convento do Carmo.  

Fico muito feliz ao ler que estão restaurando estas caminhadas pelo centro...Evidentemente que não terão o mesmo ar charmoso que eu e meu marido sentíamos ao caminhar junto com inúmeros casais que se distraíam com esses passeios aos domingos à tarde.

Mas, com certeza, hoje os jovens que buscarem fazer esses roteiros turísticos poderão observar e descobrir muitas belezas escondidas pela fumaça, pelos camelôs, pela fuligem e pelo barulho da cidade.  

Sem dúvida, é uma iniciativa altamente louvável, visto que o paulistano precisa valorizar as belezas de sua cidade. Todas as pessoas sabem da importância da propaganda quando vendemos alguma coisa...E se o próprio paulistano despreza a sua própria cidade e só enxerga os problemas graves que nos cercam (que são muitos, eu reconheço) ao conversar com turistas ou mesmo moradores de outros países, realmente estará passando uma imagem denegrida de seu próprio espaço, seu ambiente, sua morada...Como se falasse mal de sua própria moradia, parecendo que ele não percebe a própria parcela de culpa em todo o processo. Essa postura é meio caminho para que a cidade seja mal vista, mal falada, considerada uma das piores do mundo...

Quem sabe, se mudássemos esse conceito, as coisas não iriam melhorar?

Quem sabe, se ao avistarmos o horizonte esfumaçado, comentássemos sobre o horizonte da Serra da Mantiqueira ou do Pico do Jaraguá, o qual tem uma vista belíssima da cidade, ao invés de só lamentarmos a poluição.

Enfim, que pudéssemos enxergar a beleza das obras de arte que ainda existem pelas praças públicas, apesar de confinadas em verdadeiras gaiolas com grades...

Mas, quase sempre é assim... A gente acaba desvalorizando as coisas que são mais acessíveis... Belezas como a nossa Pinacoteca, o MASP, o Parque Ibirapuera, o Monumento às Bandeiras,  o Museu do Ipiranga, os nossos “SESCs”, a Sala São Paulo, o Parque da Luz, enfim, nossos tesouros históricos e culturais.  

Essa iniciativa pode ser um começo...Quem sabe os olhos do turista  se transformem em olhos de paulistanos....

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