Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Agosto 24, 2001
Índice das Histórias já publicadas
Recordações
de viagem
Vocês
já tiveram a oportunidade de buscar uma foto antiga e constatar que ela foi
destruída pelo tempo?
Ao
vê-la dessa forma, uma sensação intensa de perda nos toma conta.
Uma
tristeza que vem do fundo do peito e nos deixa pensativos, cabisbaixos. Como se
o nosso passado pudesse ser perdido e destruído pelo tempo. No entanto, mesmo
contra manchas e borrões que o tempo insiste em imprimir nas superfícies
brilhantes das fotos amarelecidas pelo tempo, nós resistimos...
E
nos negamos a esquecer os bons momentos, os amigos, os familiares queridos e as
alegrias de velhos momentos como os carnavais, os “Natais”, os velhos espaços
e antigas posturas.
Ao
descobrirmos fotos destruídas, creio que a tristeza que nos toma conta seja
decorrente de nos sentirmos parte das fotografias...Como se olhássemos para nós
mesmos e percebêssemos que o tempo flui impiedoso e nos corrói...Nos deixa
marcas e sinais indeléveis. Mas também nos deixa experiências que, espertos,
usamos para nos manter vivos.
Uma
foto esquecida em um canto de gaveta é uma prova de que vivemos, existimos, e
nos envolvemos com a vida a tal ponto de termos participado de situações
interessantes.
Como
foi quando viajei com minha família pela primeira vez ao Rio de Janeiro no ano
de 1954.
Fomos
de carro, com um motorista contratado. Horas
e horas de automóvel até atingirmos a capital do nosso estado vizinho. Naquele
tempo um longo caminho a ser percorrido... Mas, que valia a pena.
A
cidade do Rio de janeiro na década de 50 estava em plena forma: ruas
arborizadas, limpas, belos parques, como o da lagoa Rodrigo de Freitas chamavam
a atenção pela tranqüilidade e calma. Naquele tempo, o Rio de janeiro era a
capital do país, centralizando todas as atenções políticas e econômicas. O
povo era afável, e notava-se o prazer de ser carioca. Era realmente a cidade
maravilhosa tal como falava a música. Sem violência e favelas.
Na
ocasião de nossa viagem, ficamos hospedados no famoso hotel Copacabana Palace,
usufruindo um conforto típico dos chamados “anos dourados” da década de
50. Visitamos o Corcovado, o Pão de Açúcar, e as lindas praias que já
estavam cercadas pelas ondas desenhadas nas largas calçadas à beira-mar.
Nesta foto, o meu marido Nicola está sentado no pára-choque de nosso carro em plena Avenida Copacabana. Repare que a nossa inseparável máquina fotográfica era presença importante em todos os momentos. Ao lado dele estão meu “comprade” Olindo e o nosso motorista, o meu cunhado José Milani.
Um
dos passeios interessantes (e para mim apavorantes, pois eu tenho muito medo de
barcos e navios) foi a travessia para a cidade de Niterói. Evidentemente, ainda
não existia a ponte Rio-Niterói, e um grande barco era utilizado pela população
para transitar entre as cidades. Lembro-me que achamos a cidade de Niterói
pequena e pouco desenvolvida, talvez a comparando com a beleza e desenvolvimento
do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, não me lembro exatamente quando, houve
um acidente exatamente com essa barca que fazia a travessia, onde várias
pessoas desapareceram...
Outro
passeio que meu marido fez questão de nos levar foi uma visita ao novíssimo
estádio do Maracanã...Uma impressionante construção para os padrões da época
e que nos deixava admirados pelo tamanho e por toda a emoção que esse espaço
transmitia. Afinal havia sido ali a
famosa final do jogo Brasil e Uruguai que havia acontecido quatro anos antes e
feito chorar toda uma nação...Essa visita nos marcou profundamente e por muito
tempo, foi motivo de comentário.
Nesta foto estamos na entrada monumental do estádio...Aqui estou com o casal de compadres que nos acompanhavam e minhas duas filhas, uma delas começando a dar os primeiros passos.
Anos
mais tarde, tive outras oportunidades de retornar ao Rio de janeiro. Em uma
dessas ocasiões, na década de 70, viajei ao Rio com minha filha, cunhada e
sobrinha com o trem noturno... Foi uma das viagens mais divertidas que já
fiz... Saímos da Estação da Luz às 23 horas e durante a noite inteira
viajamos de trem, hospedadas em cabines com camas e banheiro. Ao amanhecer,
usufruímos um vasto café da manhã no vagão - restaurante do trem e pudemos
vislumbrar a paisagem da chegada à cidade. Uma visão muito bonita. Mas, nesse
tempo, já podíamos perceber que o Rio de janeiro começava a apresentar
problemas de violência, assaltos, sujeira nas praias, enfim situações que
foram se agravando com o passar do tempo e hoje são fatos concretos que fazem
com que a população carioca viva apavorada, tensa, stressada, tanto ou quase
como os paulistas.
Os
passeios e as viagens são recordações que ficam no fundo de nossa memória,
mas que dependem de sabermos olhar e sentir esses momentos para que se tornem
felizes e inesquecíveis. Espero que os jovens de hoje continuem a ter essa
sensibilidade e descubram a beleza de cada momento que vivemos.
Bem, o tempo passa e as boas lembranças permanecem...Ficam apenas os momentos significativos. Recordando o velho Rio de janeiro e também a antiga cidade de São Paulo, sentimos um misto de nostalgia e breves momentos de esperança...
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