Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Março 16, 2001
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Quando
a velocidade cativa...
Às vésperas do Grande Prêmio de Formula Um em São Paulo no início de abril, não poderia deixar de lembrar as antigas corridas de automóvel.
Tradição de longa data, as corridas de automóvel paulistanas já aconteciam com frequencia em nossa cidade desde o início do século XX.
O paulistano sempre gostou de automóvel...no entanto, antigamente, o acesso ao veiculo motorizado era restrito aos grandes magnatas do café e grandes industriais do início do século.
Depois que Alberto Santos Dumont trouxe o primeiro automóvel da França para o Brasil, um modelo Peugeot, os milionários paulistanos adotaram os automóveis como diversão.
Assim
como Dumont, eles costumavam participar de corridas na Europa e traziam essa prática
para São Paulo. Santos Dumont aparece nessa foto de 1920
junto com figuras ilustres do início do automobilismo paulistano.
Na década de 30 e 40, o automobilismo já era prática comum nas ruas de São Paulo.
Certa vez, eu e meu irmão Accácio fomos assistir uma corrida de automóveis em pleno centro dos Jardins na Avenida Brasil. Participavam os já famosos Chico Landi e Pintacuda . Esses pilotos eram a grande sensação do momento. Chico Landi corria com uma Maseratti , mas os carros daquele tempo, eram comumente chamados de baratinhas, devido ao seu formato.
E então, chegou o dia da corrida e lá fomos nós.
A atual Avenida Brasil foi o espaço escolhido pois era considerada apropriada devido a largura suficiente para comportar os carros. Fomos caminhando, atravessando a Chácara do Japão (atual Jardim Paulista), ansiosos por assistir e ouvir as famosas baratinhas.
Chegando ao local, já havia uma pequena multidão O interesse pelo velocidade somado a oportunidade de assistir um esporte perigoso e emocionante já provocavam “frisson” entre os paulistanos.
Conseguimos um lugar sobre uma pequena elevação de terra, um morrinho, e lá nos acomodamos. A visão era boa, quase privilegiada, pois dava para ver a largada e uma boa parte da pista, a qual, só para esclarecer, era de terra batida. Não existiam quase construções e casas na região.
Passado algum tempo, já tínhamos até desfrutado de nossos lanches, estava tudo pronto para a largada. Ainda podíamos ver a agitação dos pilotos e seus mecânicos próximos aos carros, fazendo os últimos acertos.
E as famosas baratinhas de Chico Landi e Pintacuda estavam lá, reluzentes. E os nossos olhos lá, bem brilhantes.
E finalmente, foi dada a largada...um barulho ensurdecedor...imaginem que nunca tínhamos ouvido um som daquele nível, pois a cidade era tão silenciosa que o ronco dos motores até podiam ser ouvidos ao longe, até mesmo no Itaim-bibi...
E a poeira era enorme, quase escondendo os competidores que vinham atrás dos famosos pilotos. Não posso afirmar quantos haviam, mas creio que o número não passava de cinco ou seis carros apenas.
E finalmente, eles passaram bem a nossa frente, em uma velocidade inimaginável para os padrões da época...nossos corações disparavam de emoção e medo...afinal , hoje constato que a insegurança era total...o povo ficava bem ao lado da pista, sem guard-rail ou qualquer outra proteção. Aliás, os acidentes eram constantes... soube que em outras corridas, um grande atropelamento vitimou diversas pessoas que ali assistiam. Mesmo assim, eu e Accácio vibrávamos com a velocidade das baratinhas.
E voltas e mais voltas, Chico Landi e Pintacuda se alteravam em primeiro lugar, quando finalmente Landi venceu...
Em maio de 1940, o autódromo de Interlagos foi inaugurado e realizado primeiro Grande Prêmio São Paulo com 25 voltas. O piloto que ganhou foi Artur Nascimento Júnior pilotando uma Alfa Romeo e Chico Landi ficou em segundo lugar. A prova durou quase duas horas.
O automobilismo sempre cativou nossos jovens e se transformou em tradição nas terras paulistanas. Consequentemente. foi muito natural o aparecimento dos grande pilotos campeões mundiais, Fittipaldi e Senna. Mas, tenho certeza, que existe algo mais nessa tradição pois a prática existe nas ruas de São Paulo... porque dirigir em meio ao caos do nosso trânsito só mesmo sendo um grande piloto! Afinal ganhamos um “grande prêmio” a cada dia, voltando para casa ilesos
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