Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Novembro 09, 2001
Índice das Histórias já publicadas
A
Lua, nossa companheira.
A lua. Minha companheira.
Que
me enleva e encanta até hoje nas noites claras e estreladas.
Lua
que esconde pensamentos e emoções de tanta gente.
Uma
beleza ímpar. Única. Lua que guarda mistérios e embala emoções... Não
dizem que lá mora São Jorge e o dragão?
Lua
que se esconde por trás das nuvens, por trás das montanhas e edifícios...A
qual, nas noites escuras em nossa cidade, marca o chão com sua presença
tingindo com seu luar cada pedaço de São Paulo.
Lua
que controla as marés, equilibra energias, prateando as praças e jardins.
Lua
que transforma pensamentos, mas também possui uma aura de paz que nos dá a
certeza que o mundo é muito maior que nós. Que transmite uma imagem que leva a
nossa imaginação para longe. Lua que nos envolve e nos enleva...
Lua,
minha companheira de tantas confidencias...Tristezas e alegrias...És minha
amiga... Talvez aquela amiga que não responde imediatamente, mas a qual sabemos
que está presente todo dia, naquela mesma hora, naquele mesmo lugar... E essa
certeza nos transmite segurança e tranqüilidade...E não é por acaso que
batizaram um de seus espaços como Mar da Tranqüilidade, quando foi descoberta
e procurada por tantos astronautas que lá foram. Mas não a transformaram e nem
lhe tiraram seu encanto.Lembro-me quando em 1969, o Homem pisou pela primeira
vez em sua superfície que tanto se falou em mudanças, que a sua beleza seria
esquecida e perdida...Como Gilberto Gil cantava: ‘Poetas, seresteiros,
namorados correi... É chegada a hora de escrever e cantar...Talvez as
derradeiras noites de luar...”Mas, felizmente nada disso aconteceu... e ela
continuou lá. Firme, bela, nos observando e nos embalando, nos deixando mais
românticos e sentimentais.
Sensíveis o suficiente para sentir seu luar. Luar que suscita idéias e
é fonte de inspiração para poetas e músicos. Até mesmo nas canções mais
populares, tão simples como esta: “Tomo banho de lua... fico branca como a
neve... o luar é meu amigo... censurar ninguém se atreve”.
Lua que brilha e indica caminhos na escuridão dos nossos pensamentos, muitas vezes clareando nossas dúvidas, nossas decisões durante a vida...
E afinal quanta insatisfação nós enfrentamos no decorrer de nossa existência, não é mesmo? Quantas pessoas se sentem infelizes com o que são e transformam sua vida em uma busca infinita da felicidade. Nesta poesia, Machado de Assis fala disso e também da Lua.
“Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
-” Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela! "
Mas a estrela, fitando a Lua, com ciúme:
-” Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela..."
Mas a Lua, fitando o sol, com azedume:
-” Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume! "
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
-” Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”·”.
Neste círculo vicioso machadiano, fica aqui um momento de reflexão... O
que somos e o que queremos ser???? Quando, em uma noite clara e enluarada, você
encontrar um tempinho em sua vida, não perca a chance de fixar o olhar na Lua e
sentir sua presença. Tenho a certeza que você encontrará respostas, talvez não
tão claras como seu luar, mas sensíveis como você.
Lua. Minha companheira. Que seja nossa.
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