Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Setembro 21, 2001
Índice das Histórias já publicadas
Tempos
de guerra?
Tempos
de guerra...
Revolta,
ódio, indignação.
Os
fatos horríveis que aconteceram nos Estados Unidos nos deixaram estarrecidos.
Impossível não comentar. Impossível ficar alheio.
Até que ponto um ser humano se dispõe a morrer daquela forma? O que
provoca na mente humana um ato desses?
Um
ato covarde.
Na
guerra as pessoas estão preparadas para enfrentar a violência e a tragédia,
mas o ato terrorista é covarde, traiçoeiro e atinge diretamente milhares de
pessoas e famílias desprevenidas para a violência.
Para
quem conhece o modo de vida americano, os fatos que ocorreram constatam uma violência
e um desequilíbrio incrível. A sociedade americana, e suas cidades transmitem
segurança, direitos humanos, respeito, cidadania, tranqüilidade a quem as
visita... Nota-se uma sociedade super organizada e extremamente educada. Em
vista disso, um ato desses deve ter provocado um grande desequilíbrio emocional
em cada americano. Imaginem que se esse já foi o sentimento dos outros povos, o
que sentirá o próprio americano. Mas, nós também fomos atingidos. Eu li em
uma coluna no jornal O Estado de São Paulo que esse acontecimento foi um ato
que atingiu o Brasil, pois vários brasileiros morreram trabalhando e lutando
para ser feliz.
Na
primeira vez que estive em Nova York em 1973, o prédio mais alto ainda era o
Empire State Building. Mas, a opulência dos edifícios novaiorquinos já
chamava a atenção de quem caminhasse por suas ruas.
Todos
já eram, e agora mais ainda, fantasticamente altos...Por exemplo, um prédio de
40 ou 50 andares que, para os padrões paulistanos estaria entre os maiores da
cidade, é considerado baixo ao ser observado pelos transeuntes.
Na
segunda vez que fui à Nova York há cinco anos atrás tive a oportunidade de
ver as torres gêmeas bem de perto. Não tive coragem de subir, pois as informações
eram de que lá em cima podia-se sentir o quanto
balançavam ao sabor do vento. Uma construção simplesmente fantástica.
Incrivelmente altas. Um símbolo de riqueza, planejamento, estabilidade.
E...quem diria,
para nossa surpresa, um alvo muito fácil de localizar. Naquela ocasião,
eu e minha família visitamos a pé toda a região onde ocorreu a catástrofe.
Ao ver os mesmo lugares que passeamos, agora destruídos, sente-se um misto de
tristeza e desolação,
emoção e incredulidade. Realmente foi uma pena tudo o que aconteceu...E a
pergunta fica no ar... E agora?
Até
o envio desta matéria, nenhuma notícia de ataque dos americanos em represália
ainda havia ocorrido. Temo que no dia desta publicação algo já tenha ocorrido
talvez uma guerra já declarada.
E
guerra, minha gente, é algo terrível.
Eu,
infelizmente, me recordo com
grande tristeza os tempos de guerra e revoluções que vivemos aqui em São
Paulo entre as décadas de 20 e 40. Já tive oportunidade de escrever sobre isso
aqui.
Primeiro
assisti de perto a revolução de 24 quando o meu tio foi lutar no front. Alem
de nossa tristeza assistindo tantas tragédias e mortes, vivíamos preocupados
com meu tio que ficou meses viajando com as tropas pelo interior do estado.
Mas
para a sociedade
em geral, uma guerra traz alem da tristeza e a perda de vidas, muitas
dificuldades econômicas. Falta de alimentos, segurança. Falta de perspectiva
de vida..
Nos
tempos de guerra, a falta de esperança é um fator muito presente perante os
jovens e as famílias. A perspectiva de não poder investir e conquistar o
futuro permeia e influencia os pensamentos de todos.
Na
Segunda Guerra Mundial, São Paulo vivia esse clima. Instabilidade política,
econômica, pessoal e moral.
Até
mesmo pequenas reuniões e comentários pelas ruas sobre o assunto eram
evitados. Naqueles tempos parecia que todos desconfiavam de todos. Espero
sinceramente que esse clima não retorne. E que as pessoas entendam que podemos
fazer um mundo melhor.
Muita
se falará sobre
aquelas imagens que vimos...e que mudaram o mundo...
Muita coisa já vi nesses oitenta anos de idade, e sei que aquelas imagens foram fortes demais. Mas o que posso comentar é que o ser humano é terrivelmente vingativo, mas também terrivelmente forte para sobreviver e superar. Não percamos as esperanças.
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