Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Abril 14, 2000
Índice das Histórias já publicadas
A Rua Joaquim Floriano em 1925...
Outro dia estava caminhando pela Rua Joaquim Floriano.Olhando as lojas e os novos prédios que estão surgindo a cada esquina, não pude deixar de lembrar da primeira vez que passei por esta rua .Tinha apenas seis anos de idade e vinha de mudança para a nossa chácara comprada pelo meu pai do Sr. Arnaldo Couto de Magalhães. Quadra 16 Lote 56.Ao alcançarmos a atual Praça Gastão Liberal Pinto, eu e minha família, nos vimos frente a uma antiga porteira de fazenda [NR: desenho à direita; clique no desenho para ver a ampliação]. Meu coração disparou. Lá do alto eu podia ver todo o bairro... Muitas árvores, muito mato fechado e uma longa descida bem a nossa frente, uma estrada de terra, prolongamento da Rua Brigadeiro Luis Antonio, a qual, iria se chamar Rua Joaquim Floriano. Podia-se ver algumas casas de comércio e as casas das chácaras que apontavam os seus telhados entre as árvores frondosas.
Dois grande pés de pinheiros ladeavam a porteira e ao seu lado via-se uma pequena capela já destruída pelo tempo .
Seguimos a estrada de terra balançando ao compasso da carroça. Ou seria ao compasso de meu coração?
Alguns metros abaixo, deparamos com a primeira casa de comércio, na esquina do lado direito da atual Rua Renato Paes de Barros. Isso mesmo, em frente ao Cine Lumiére, havia um empório que fornecia rações aos donos das chácaras. Na frente da loja, alguns cavalos e a carroça de entrega, com uma boleia bem alta, estavam estacionados tranquilamente!
Na outra esquina havia um pomar "cheiroso" de goiabas e a vendinha do "Seu Marreco".
Percebi que não havia nenhum sinal de iluminação pública.Eu, acostumada com os lampiões de gás da Rua Augusta, estava estranhando muito o fato de irmos morar em um lugar escuro...
Mas, logo meus pensamentos se desviariam para um local especial: o Grupo Escolar. Claro, era ali que eu iría estudar e por isso eu estava tão interessada.
O prédio da escola pública ficava na atual esquina da Rua Urussui com a Joaquim Floriano. Hoje eu percebo como, naquele tempo, a educação era importante para o governo, proporcionando uma escola de qualidade para os moradores de um local ainda tão distante do centro da cidade.
Naquele dia eu ainda veria uma chácara de flores, uma de verduras e as vacas leiteiras do Sr. Jacinto Barbosa, amigo de meu pai. Todas essas chácaras se localizavam nas proximidades de nossa casa.
Passando pela padaria do Seu Lepera, finalmente entramos na Rua João Cachoeira. Só havia uma pequena trilha no meio do mato alto e nossa carroça mal podia passar. Com dificuldade, chegamos à nossa casa. Era bem confortável, com um belo terreno e espaço para plantarmos verduras, flores e para os pequenos animais.
Hoje eu caminho com o orgulho de quem fez parte da história desse chão. Observo as pessoas que compartilham esse espaço comigo. E compreendo que, de alguma forma, passo a passo, eu, minha família e os nossos vizinhos ajudamos a construir uma comunidade onde hoje tantos moram, trabalham e vivem sua própria história. Aos poucos, a Chácara Itahy iria se transformar no Itaim-Bibi.
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