title>A tradicional Joaquim Floriano dos anos 40 e 50
Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Agosto 25 de 2000
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A tradicional Joaquim Floriano dos anos 40 e 50
Reparem nesta foto. O ano é 1949. A rua é a Joaquim Floriano. Para nós, simplesmente "Avenida". Tranquila. Sem trânsito. Sem movimento. Poucos carros e transeuntes. Residências que conviviam com lojas comerciais. Jardins com rosas disputando espaço com balcões e prateleiras.
O meu irmão Acácio Manoel Venancio, recém-casado com Josefa, passeava pela calçada . Eles estavam na altura do n. 439 onde hoje existe uma loja de móveis. No lado oposto, o sobrado que se avista na foto é atualmente a loja da Eletropaulo.
A rua Joaquim Floriano sempre foi larga e ampla. Na verdade ela era a continuação da Rua Brigadeiro Luis Antonio seguindo até a Rua Iguatemi nos grandes portões do Sanatório Bela Vista.
Seu calçamento foi, por muito tempo, de paralelepípedos. O que provocava um som especial dos carros e charretes que lá passavam.
O seu comércio era, praticamente, voltado a atender as necessidades dos moradores.
A padaria Maná que ficava na esquina com a atual praça Dom Gastão Liberal Pinto fazia com que o cheiro de pãozinho quente se espalhasse pelas redondezas. Aliás existiam muitas padarias na região. Como a padaria do Marreco na esquina da Rua Bibi, que foi comprada pelo meu sogro, o qual por muitos anos foi seu proprietário.
Próxima a praça, a imponente residência dos Couto de Magalhães chamava a atenção de todos.
Logo abaixo, havia uma creche para crianças pequenas. Tínhamos também a loja de tecidos do Seu Alfredo e ao seu lado a loja de móveis do Seu Alberto. O açougue dos Tomazelli que ficava em frente ao atual Banco Bradesco e o barbeiro Seu Jaú em frente ao atual Cine Lumiere. Aliás esse cinema tinha o nomede Cine Star e ficava no primeiro prédio com elevador construído no Itaim. O nome do prédio é D. Dulce, em homenagem a proprietária e ainda se encontra no mesmo local, com a mesma fachada do final da década de 40 quando foi construído.
A farmácia Santa Eulália ficava ao lado da atual Caixa Econômica Federal . Um pouco mais abaixo o espaço era ocupado pela Fábrica de Chocolates Kopenhagen , que por muitos anos perfumou nossa vizinhança com o seu chocolate mais famoso, o marzipan .
Em frente da fábrica já existia outro cinema: O Cine Itaim. O bar do Sorbello, na esquina com a Bandeira Paulista era vizinho da Casa de Móveis do Seu Carlos.
Já naquela época nós tínhamos o privilégio de ter um posto policial, ao lado do atual Banco do Brasil. Mais abaixo , outra padaria, a do Lepera, que ficava na esquina com a João Cachoeira.
Tínhamos também a loja de tecidos finos do Seu Moisés na atual Lojas Marisa e a sua frente estava a farmácia do Seu Brandão. Ao seu lado ficava a loja de armarinhos do Sado . O barbeiro Abilio já estava há muito anos na João Cachoeira. E havia sido um antigo vizinho de Dona Feliciana, a parteira.
A primeira cabeleireira e também costureira do nosso bairro foi a Dona Ida. Um luxo só. Caprichava nos penteados e nos cortes das moças e senhoras. Além disso, costurava até vestidos de noiva. Na verdade, juntava as necessidades: tratava da beleza no cabelo e nas vestimentas das grandes festas.
No decorrer dos anos outras lojas se tornaram tradicionais no Itaim. Estabelecimentos comerciais foram surgindo como a Casa Paes, a Casa São Benedito, a Drogasil , o Empório Zangari, a Casa São José. Ainda temos o privilégio de fazermos compras em algumas...
É interessante notar pequenos detalhes que deixam claro como as lojas se modernizaram. Nas farmácias antigas, os balcões e as prateleiras eram de madeira de lei, e sobre eles imperava a balança de precisão e a imponente caixa registradora de metal brilhante.
Os empórios tinham sacos de cereais a disposição dos fregueses para se comprar feijão e arroz de diferentes qualidades. Tudo era pesado e escolhido na hora.
As padarias tinham grandes fornos a lenha e o leite vinha acondicionado em garrafas de vidro. As lojas de tecidos faziam muito sucesso pois as donas de casa costumavam costurar suas próprias roupas em máquinas de costura manuais, movidas a pedal. Não existiam tênis...os calçados eram de couro mesmo, os homens usavam chapéu e, muitas vezes, bengalas. Mas essas coisas só eram encontradas nas lojas do centro.
Aqui também não existiam barracas para venda de jornais. O jornal nos era entregue na porta de casa semanalmente ou então comprado de rapazes que o traziam pendurados em bolsas. Ofereciam pelas uas gritando e anunciando as manchetes do dia.
Há algumas semanas recebi uma mensagem de um leitor desta coluna chamado Sr Luis Viera . Na ocasião, ele nos contou sobre o restaurante que seus pais tinham na Joaquim Floriano inaugurado em 1954 . Transcrevo aqui suas próprias palavras, nos contando um pouco do seu estabelecimento."O restaurante do meu pai era conhecido como o Bar do Toninho e ficava no 174 da Joaquim Floriano, em frente ao Joakin´s, ao lado da Ótica do Ari. Era um lugar simples onde todos comiam sentados em qualquer cadeira, mesmo com pessoas desconhecidas sentadas à mesma mesa. Ficamos ali até o fim de 1978 e lembro que na época chegava-se a servir 300 almoços por dia. Quem ficava na cozinha era minha mãe, Dona Gracinda e havia uma senhora portuguesa, Dona Amélia, que servia as mesas."
Pois é, as transformações acontecem e passam muitas vezes desapercebidas, encobertas pelo tempo. Mas hoje, os moradores do Itaim assistem constantes, e até mesmo bruscas, mudanças em nosso bairro. Novas construções estão sendo feitas e grandes empreendimentos estão invadindo os espaços e mudando a paisagem.
O que será que o futuro nos reserva? Cabe a nós estarmos atentos preservando nossa qualidade de vida para assim usufruirmos de todo o conforto que nosso Itaim nos oferece.
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