Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Dezembro 01 de 2000
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Breve encontro com o passado
Na semana passada tive uma grata surpresa.
Uma singela homenagem de alguém especial: Walter Gomes Amorim.
Escritor consagrado e conhecido por seus artigos em jornais e revistas na cidade de Mogi das Cruzes, Walter escreve uma coluna semanal no jornal Diário de Mogi. Suas crônicas são deliciosas, com sábio humor e sadia leitura. Um prazer que desfruto todas as terças-feiras acessando o site do referido jornal.
Qual não foi a minha surpresa ao ler sua crônica intitulada "Não se trata de satanizar, mas mostrar avesso" e encontrar referências ao Itaim-bibi e também a minha pessoa e minhas filhas .
Não pude deixar de ficar emocionada e, peço a licença de, com grata satisfação, transcrever um trecho de seu saboroso texto. Desfrutem esse especial momento, onde Walter recorda passagens de sua infância no Itaim-bibi.
(...) "Tive a oportunidade de conhecer pessoas extraordinárias, que conservo com carinho na memória e sou-lhes grato, porque transmitiram-me lições de vida, que ajudaram a formar o meu caráter. Meus avós maternos, Ângelo e Fortunata, eram italianos. Meu avô pertencia à Maçonaria e tinha uma padaria e mercearia, na rua Conselheiro Ramalho. Periodicamente, os irmãos maçons reuniam-se no salão de manipulação, para festejar, comer, beber vinho e cantar.
Às vezes eles me punham em cima da mesa, para acompanhar a cantoria, o que me fez gravar na memória vários dialetos, que me valeram muito quando estive na Itália. Meu pai, entregava pão no Morro dos Ingleses, redondezas e bairros vizinhos, até aonde os animais agüentavam. Morávamos na parte assobradada, nos fundos da casa, cujo quintal era enorme. Todos os dias, o bonde, parava defronte ao portão. O condutor descia e gritava com sotaque português:
- Menino, bamos à escola! Minha tia Melinda, que ainda vive, pegava-me pela mão e saíamos correndo. O condutor, ajudava-nos a subir. Nesse pequeno espaço de tempo, o motorneiro, também descia, batia um rápido papo com meu avô e aproveitava para tomar uma taça de vinho. Enquanto isso, os passageiros esperavam tranqüilos, alguns lendo o jornal, enquanto outros sorrido abriam espaço para nos acomodarmos.
Aquilo é que era civilidade. No Jardim de Infância, na rua João Passaláqua, que pertencia a uma irmandade de freiras italianas, fui alfabetizado em italiano. Mais tarde, nomeado Oficial de Justiça, meu avô, vendeu a padaria e construiu uma casa na rua João Cachoeira, no bairro do Itaim Bibi. O terreno era grande e ele pôde por em prática seus conhecimentos de agricultor, trazidos da Itália, formando uma chácara com pomar e uma linda parreira de uvas.
Todas as madrugadas, íamos juntos, ele empurrando a carriola cantarolando, eu com a pá, colhendo estrume de vaca que, misturado à terra, serviria de fertilizante e, procurando ninhos de ovos de galinha. No curral do senhor Jacinto, um português que criava vacas leiteiras eu tomava uma bela caneca de leite ordenhado na hora. Depois, passávamos pela casa do senhor Sarmento, não me lembro do primeiro nome, que também tinha vacas leiteiras.
Na volta, já manhã de sol alto, eu me trocava e corria para o Grupo Escolar Prof. Aristides de Castro, onde fui reprovado, porque não conseguia desaprender o italiano. Defronte à chácara do meu avô, morava dona Aurora, uma portuguesa, viuva, queimada de sol, magra, porém, rija, enérgica, trabalhadora incansável, que também, cultivava uma bela chácara de verduras e conseguiu criar os filhos, Alberto, Acácio, e a Guiomar, ainda, testemunha ocular da História do Itaim Bibi.
Guiomar, casou-se com meu saudoso primo Nicola, é mãe da artista plástica, Neusa, fotógrafa profissional, super competente e da Nereide Schilaro Santa Rosa, consagrada escritora, sobre quem já escrevi. Aproveito a oportunidade, para agradecer à Neusa, o lindo comentário, via Internet a este Jornal, sobre a minha crônica, A trégua política, o chuchu e o xixi.(...)" . Walter Gomes Amorim, O Diário, Mogi das Cruzes, Terça-feira, 21 de novembro de 2000.
Walter , primo do meu marido Nicola, passou a infância em nosso bairro e depois mudou-se para a cidade de Mogi das cruzes.
Tornou-se professor, advogado, diretor fundador da Faculdade de Comunicação Social Braz Cubas e autor dos livros "Gaveta de Sonhos" ( poesias) e "A Ceia dos Anjos" (contos , crônicas e...).
Nesta foto, tirada em janeiro de 2000, nos reencontramos depois de muito anos na Pinacoteca do Estado de São Paulo por ocasião do lançamento do livro de minha filha Nereide.
Uma pessoa especial que traz orgulho ao nosso bairro pois aqui neste espaço e nestas ruas, Walter construiu parte de sua história de vida. E, tenham certeza, que o Itaim-bibi aconchegou, e ainda aconchega, pessoas especiais, criativas, dinâmicas, que mesmo distantes fisicamente, sentem a energia que nosso bairro transmite: seja uma energia que vem do passado com seus amplos espaços e muito verde, seja uma energia que palpita com modernidade, dinamismo, conforto e riqueza.
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