Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Janeiro 25, 2001
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Transportando os sonhos dos paulistanos...
Correndo pelas ruas de terra do Itaim antigo seria impossível imaginar a que ponto nossos meios de transportes evoluiriam. Do alto de meu testemunho octogenário, posso descrever com certa precisão os diversos meios que os paulistanos já utilizaram para transportar e desbravar as colinas e os vales do planalto paulista.
Ainda pequena com seis anos de idade, mais exatamente no ano de 1924, cheguei a Chácara Itaim em cima de uma carroça!
Mas, naquele tempo, os bondes puxados a burro já eram comuns, convivendo amistosamente com alguns carros.
Como esses :
Bonde no ano de 1905 | Um dos primeiros automóveis de SP em 1902 |
Alguns anos mais tarde , já na década de 30, nós moradores da distante Chácara Itaim tivemos o privilégio de ter acesso ao bonde 45, que nos levava ao centro desde o atual Jardim Europa. Depois, nos anos 40, vieram as linhas de ônibus facilitando nosso transporte entre o centro e os bairros vizinhos.
No entanto, os automóveis particulares já circulavam por São Paulo desde a década de 30.
Esta foto mostra a Praça do Patriarca em 1934
E esta outra foto mostra a mesma praça, já com bastante movimento automobilístico, no ano de 1952 .
Particularmente, eu e meu marido Nicola adquirimos nosso primeiro automóvel em 1950, um modelo Prefett. E quantas vezes, o empurramos ladeira abaixo para fazê-lo funcionar! As ruas de terra do Itaim e dos bairros vizinhos não favoreciam o transito...e quando chegou o asfalto, foi aquela alegria...hoje já não pensaria dessa forma, pois esse mesmo asfalto nos trouxe congestionamentos, poluição, barulho, e até a impermeabilidade do solo, colaborando para enchentes...Pois é, existem coisas que só com o tempo nos levam a fazer reflexões corretas.
Quantos modelos de carros tivemos... Chevrolet, Ford, Citroen...
E quantas viagens pudemos realizar depois de estarmos motorizados: Rio de Janeiro, Aparecida do Norte, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Santos, Pirapora do Bom Jesus... Imaginem que esses eram nossos "grandes passeios" cheios de aventura e emoção a 40 km por hora!
E assim como nós, inúmeros paulistanos adquiriram seus automóveis...aumentando nossa frota de forma absurda...Com a vinda das grandes fábricas de automóveis incentivadas pelo Presidente Juscelino Kubsticheck, o transporte individual se tornou inevitavelmente um objeto de consumo, um objeto de sonho.
Os bairros ficaram mais integrados...as cidades mais próximas...as viagens mais comuns ... e as ruas mais congestionadas...
Logo as linhas de bonde desapareceram...lembro-me especialmente de uma que ligava o centro até Santo Amaro, passando pela Vila Mariana na Rua Senna Madureira, depois Moema na atual Avenida Ibirapuera, Campo Belo pela Avenida Adolfo Pinheiro, até chegar ao centro de Santo Amaro, nos tempos que não existiam camelôs, trânsito, ônibus, etc. Um trajeto agradável, bonito, coisas que só quem já andou de bonde sabe apreciar.... Lembro-me da interessante paisagem da Rua Senna Madureira em dois níveis , das casas bonitas na região do Campo Belo e dos jardins do Banespa.
E o tempo passou. São Paulo ganhou o metrô, os corredores de ônibus, viadutos, pontes, túneis... transformando praças, desfigurando paisagens, destruindo histórias... só para atender a demanda automobilística.
Hoje o transporte é fundamental para nós, paulistanos...raramente podemos caminhar pelas ruas para se locomover entre os bairros... Nada de carroças, nada de bondes... Apenas vidros fechados, ar condicionado, cinto de segurança, atenção e tensão constantes, ruas esburacadas, semáforos perigosos...coisas de um tempo onde o prazer de se locomover se transformou apenas em...stress.
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